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...não era preciso saber desenhar.


Quando aprendi que não era preciso saber desenhar.


É bem isto mesmo. Em um determinado momento da minha vida, aprendi que saber desenhar não é determinante para conseguir produzir trabalhos de arte ou visuais.

A produção visual, diga-se de passagem que ocorre a já algumas boas (muitas) décadas, é um campo de expressão muito amplo, pois engloba tanto a expressão aplicadas em meios físicos (papel, tela, muro, vidro, fotografia, argila, e tantos outros...) quanto em meios menos tangíveis como o vídeo, a luz e até mesmo a imaginação. E o saber desenhar faz parte de uma pequena parcela dos recursos que uma pessoa pode-se utilizar para produzir algo.

É claro que o domínio do desenho lhe ajuda na possibilidade de antever algo, expressar uma ideia ou planejar alguma coisa. Assim como, também, lhe proporciona estudar possibilidades por meio do simples ato de rabiscar.

Mas eu sempre achei que deveria aprender a desenhar. Muito pelo meu desconhecimento do que o mundo das artes realmente se constituía, mas também porque era o instrumento artístico que me possibilitaria produzir aquilo que rondava a minha imaginação quando jovem. É claro que na época não existia muito do que a tecnologia nos oferece nos dias de hoje, nem os recursos com programas de computador, muito menos todo este compartilhamento de informação que a internet nos possibilita.

As maravilhas de trabalhos que a internet nos possibilita conhecer, em muitos momentos, me faz imaginar o que os realistas e impressionistas pensavam quando surgiu a fotografia.

Posso dizer que hoje há espaço para tudo e todos. Para os que sabem, os que não sabem, os que acham que sabem e aqueles que tem certeza que não sabem. E isso é incrível.

Mas o que importa então?

O que importa é a ideia concebida. Mas mais do que isso, é a forma como esta ideia é realizada na prática e a forma como ela interage com o seu interlocutor, afinal, quem confere o caráter de arte não é o artista, mas sim o seu apreciador.(*bom, essa é a minha definição sobre o que é arte)

Para mim, um forte exemplo disto é Basquiat (http://www.basquiat.com/ ). Em suas obras, demonstra saber desenhar tanto quanto uma criança de 5 anos.....mas é um dos artistas que mais admiro.


Olhar o que o mundo das artes produz nos dias de hoje é algo incrível e maravilhoso. É engrandecedor como podemos absorver cultura por meio de poucos cliques. Porém, esta enxurrada de informações pode destruir a convicção de um artista. Afinal, existem perfeições que temos dificuldades de acreditar que foi realizada pela mão de uma pessoa apenas com um lápis ou uma bic.

A arte que eu acredito que produzo baseia-se em alguns elementos básicos do desenho e pintura e, acredito eu, que obtenho algum êxito no assunto. Entretanto quando eu começo a viajar pela internet e olhar os trabalhos de outros artistas que também transitam pela mesma área que eu, me produz uma sensação de achar que “Bah!! Só me resta recolher meus humildes materiais e sair na ponta dos pés para que ninguém perceba a minha insignificância”.

Parece engraçado, mas por muito tempo da minha vida de eterno aprendiz, foi assim que eu me sentia com relação às minhas produções. Tanto que, em diferentes momentos, cheguei a parar de produzir qualquer desenho ou pintura em função destas comparações e frustações por não conseguir chegar àquele nível de resultado.

A riqueza para qualquer ser humano é estar no meio de boas pessoas. Para o artista, nem sempre, já que do caos também se constrói arte. Mas é graças ao cerco de boas pessoas que conseguimos evoluir. E a evolução para o artista não é ter o reconhecimento de que sua produção é bonita, mas sim, de que seu trabalho é bom.

Ouvir e acreditar. Duas obrigações de qualquer aprendiz. Ouvi e acreditei até conseguir ter a clareza e a convicção de algo.

Não adianta passarmos a vida nos comparando a produção do outro. Somos um indivíduo repleto de particularidades que nos tornam únicos nesta vida. Nossa forma de pensar, de agir, de refletir, de interpretar, de se expressar...e eu poderia elencar milhares delas....E é este somatório de individualidades que constroem o trabalho autoral.

Pouco importa como outros fazem. O que importa é como eu faço e o quanto o que eu faço pode ser atribuído à pessoa que eu sou.

Gostem ou não. Concordem ou não.

Quando eu de fato aceitei isto, foi o dia em que eu me vi livre do medo de produzir. Foi entender e acreditar nisso que, hoje, me permite sentar e produzir. Não que seja fácil, mas não é mais um peso ou angústia sobre o que virá ao término.

É engraçado como repassar todos estes pensamentos nós conseguimos resumir tanta coisa, emocionalmente complexa, em uma simples palavra....Maturidade.

Algo construído por ter tido importantes pessoas ao meu redor me falando a verdade e por tê-las ouvido e acreditado em minhas conclusões.

Como será o futuro?

Pouco importa. Não temos controle sobre o que virá. Condições de conduzir nossa trajetória para algo no futuro nós temos, mas tudo isto depende do que realizamos nesse exato momento. E ser artista é também trabalhar com hora marcada como qualquer outra profissão, independentemente da inspiração. “Ligamos” a luz e mãos à obra.

Maurício Aurvalle.

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